sexta-feira, 25 de setembro de 2015

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O Autismo e a construção de novos caminhos



O Autismo e a construção de novos caminhos. 


Fernanda começou a desenhar aos 3 anos, "me interessei pelos desenhos e seriados de TV, eles me ajudaram a entender o mundo dos personagens"
“Eles me ajudam a entender o mundo dos personagens”, Fernanda sobre os desenhos e seriados de TV
Existem cerca de 70 milhões de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).  No Brasil, são estimados mais de dois milhões de casos e, desde 2012, os direitos desse grupo social são legalmente reconhecidos pela Lei Federal n°12.764, também conhecida como Lei Berenice Piana. 
Na opinião da pedagoga Priscila Amaral, “a sociedade está caminhando para uma melhor compreensão do que é o TEA e já é possível identificar mais interesse nas pessoas”. Em seu livro Autismo em tempo de delicadeza, Priscila descreve sua experiência de 13 anos em sala de aula, traz testemunhos de mães, compartilha sugestões de trabalho com educadores e encoraja famílias a buscarem auxílio médico especializado. 
Entenda o autismo
Fernanda começou a desenhar aos 3 anos, "me interessei pelos desenhos e seriados de TV, eles me ajudaram a entender o mundo dos personagens"
Para Fernanda, arte é liberdade
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta o desenvolvimento da comunicação, socialização e do comportamento humanos. Seu diagnóstico é 100% clínico e realizado por neurologistas e psiquiatras. Os pacientes podem ser submetidos à análise médica a partir dos três anos, embora “algumas características possam ser observadas com menos idade”, explica Priscila. Além de estudar o comportamento da criança, os especialistas conversam com os pais sobre o período da gestação, o histórico de doenças familiares, as impressões e dificuldades no dia a dia para entender melhor o caso e evitar erros de diagnóstico. 
Na fase de  tratamento, o uso de medicamentos é feito sob prescrição e acompanhamento médicos com a função de amenizar as comorbidades – associações de dois ou mais sintomas – como, por exemplo, o comportamento agressivo. 
Entre os principais indicadores comportamentais associados a esse transtorno estão a falta de contato visual, indiferença com cheiro e barulho, ausência de interação e comunicação verbal, comportamentos repetidos, dificuldades para realizar ações simples, interesse específico por determinados objetos ou brinquedos, desobediência acentuada e agressividade. Priscila esclarece que esses aspectos se manifestam de forma diferenciada em cada paciente e que a medicina reconhece os graus leve, moderado e severo do transtorno.  
“Desde bebê, minha filha apresentava dificuldades de interação e, durante muitos anos, os médicos falaram em deficiência intelectual. Aos 11 anos, veio o diagnóstico de Síndrome de Asperger (atual TEA) e com o tempo ela  passou a se comunicar e relacionar melhor”, conta Regiane Nascimento. A assistente social e pesquisadora da USP é mãe de Fernanda Sazuki, 22, e realiza estudos sobre educação e políticas públicas na área da saúde mental. Baseada em sua experiência profissional e pessoal, ela compartilha da opinião da pedagoga Priscila Amaral de que existem lacunas na formação dos profissionais e que o problema compromete o tratamento dos pacientes e a orientação de seus familiares. 
Na escola, os educadores recebem orientação de como estimular o aprendizado e desenvolvimento do autista, sempre reconhecendo e valorizando suas habilidades. A organização da sala de aula auxilia no conforto e rendimento do aluno, que apresenta elevada sensibilidade e pode ficar agitado com barulho e muita informação visual. 
A pedagoga lembra que os autistas não lidam bem com a quebra da rotina e aconselha que os professores e a família façam um planejamento diário das atividades para evitar desconforto. “Nas férias escolares, é importante manter o contato da criança com jogos e objetos lúdicos que estimulem o aprendizado, a coordenação motora e mantenham o interesse pelo novo”, completou Priscila. 
Socialização
Fernanda passou por instituições públicas e privadas, concluiu o Ensino Fundamental e está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Se atender as exigências de pontuação nas áreas do conhecimento avaliadas, ela receberá um certificado oficial do Ministério da Educação (MEC) e poderá “ingressar numa universidade, se profissionalizar e vivenciar experiências que favoreçam a sua autonomia”, declarou Regiane. 
Em 2014, ela fez a prova acompanhada de um leitor e transcritor oficial e os resultados foram animadores para a família. Sua mãe relata que as expectativas de todos são compartilhadas, mas que prevalece o tempo e o espaço da jovem. Fernanda pratica arteterapia e conta que desenhar ajuda na sua rotina de estudos, “as ideias surgem inspiradas nas músicas, filmes e documentários que assisto. Às vezes, eu me lembro das coisas que as pessoas me disseram, isso me ajuda a pensar e responder as questões do Enem”.  
No vídeo abaixo, a escritora e palestrante inglesa Faith Jegede fala sobre a rotina e as experiências dela com seus dois irmãos: 
“A nossa condição de familiar, nos permite a possibilidade de construir novos caminhos e compartilhar experiências transformadoras do nosso cotidiano. A nossa luta é para que eles sejam vistos e respeitados como sujeitos de direitos”, complementou Regiane. 
Em 2010, o Center of Diseases Control and Prevention (CDC), espécie de Ministério da Saúde nos Estados Unidos, contabilizou um caso de Autismo para cada 68 crianças de até oito anos. Os dados foram divulgados em março de 2014 e representou um aumento de quase 30% em comparação à pesquisa publicada em 2008 e 60% comparado com informações de 2006. 
Projeto Arte é Viver  
Fernanda expondo seus desenhos ao público
Fernanda expondo seus desenhos ao público
O projeto foi criado para expor desenhos, pinturas e ilustrações produzidos por jovens autistas. A ideia é divulgar o talento e a criatividade, além de fortalecer a autoestima, o protagonismo e a autonomia dessas pessoas. Em 2010, o hall de entrada do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas recebeu aExposição Arte é Viver – Por um olhar mais universalizado com obras de pacientes do Programa do Transtorno do Espectro do Autista – PROTEA.
Este ano, foi promovida a IV Exposição Arte Viver Diversidade com apoio da Secretaria de Inclusão da Pessoa com Deficiência e da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida – SMPED, da Prefeitura de São Paulo.  
Para Fernanda Sazuki, a arte significa a “liberdade de poder desenhar o que quiser”. Ela conta que o objetivo é inspirar outras pessoas “com o que pensam e sentem” e que seu maior sonho é ver seus desenhos animados na TV. A iniciativa é coordenada pela assistente social Regiane Nascimento. 
Fonte:
Observatório do Terceiro Setor 
http://observatorio3setor.com.br/noticias/o-autismo-e-a-construcao-de-novos-caminhos/